Junto à premissa da caridade incondicional surgiu a falta de interpretação maldosa dos objetivos do culto. Pretensiosos, indivíduos tentam a todo custo arrancar de médiuns e dirigentes uma consulta fora de hora, um encontro por baixo dos panos, uma forma de furar a fila e ser atendido antes de outrem etc, empregando frases de efeito ensaiadas e estapafúrdias. Agem como se a doação ao próximo fosse restringida a proporcionar o que querem e nada mais. Um ato de egoísmo sem tamanho.
Dado que os espíritos de luz nos ensinam a procurar em nós as falhas que culminam em erros, é-se esperado que ceder aos argumentos baixos de um religioso preso em seu próprio mundo em nada agregará. Talvez seja possível livra-se da questão por algum tempo ao receitar um suposto ritual “salvador de almas”, todavia é previsto que esta pessoa retornará logo que perceber que o trabalho perdeu sua eficiência. Mas, em realidade, a única coisa que foi perdida é a maturidade para reconhecer que vida não é feita somente de constantes atentados espirituais.
A partir dessa incessante busca por banhos, defumações, ebós, padês e oferendas capazes de resolver cada nova questão que surge no cotidiano nasce o mercado de falsos pais e mães de santo que ganham pequenas fortunas vendendo a felicidade eterna. Mesmo que, em teoria, somente a habilidade de barganha do “sacerdote” seja a chave para o convencimento de mentes deterioradas, na prática a ânsia por receber aquilo que foi negado por verdadeiros mensageiros da Umbanda igualmente propaga esse vírus da sociedade. Tal qual crianças muito mimadas, adultos revoltam-se contra ótimas casas por conta das respostas sérias e realistas recebidas quando acreditavam piamente que compactuariam com tamanha negligência para com si próprios.
Esses atos impensados geram sequelas financeiras e emocionais muito maiores do que aquelas carregadas antes de adentrar o espaço do tal “dirigente”, portanto a raiva jamais deve ser um combustível para buscar ajuda onde não deve. Ao considerarmos que a compra e venda é a prioridade do “pai de santo”, certamente é viável compreender por que ele sempre compactuará com qualquer que seja o achismo trazido pelo futuro cliente: se ele acha que tem uma demanda, o melhor ritual a preço de um carro será oferecido; se acha que seu finado parente está a lhe assombrar, um encaminhamento formidável a preço de uma televisão nova será indicado; se acha que médico nenhum pode lhe amparar, assumirá ilusoriamente o compromisso para com aquela existência e arrancará até o último centavo da vítima sem ao menos indicar outra opção. E se ela morrer? Bom, a culpa foi dela por não ter buscado ajuda de um profissional.
Verdadeiros médiuns e dirigentes que tentam, aos trancos e barrancos, construir uma estrutura de acolhimento favorável e justa possuem admirável consciência de seus deveres para com cada um que visita seus terreiros, consequentemente nunca concordarão com posturas inconsequentes, levianas e fúteis. Eles tomarão as dores dos consulentes como suas sem que nada além de um bom abraço e um voto de confiança sejam solicitados, pois é para isso que ali estão. Esta é a real caridade.