Um levantamento do Ministério dos Direitos Humanos, realizado de janeiro de 2015 a junho de 2017 revelou que a cada 15 horas uma pessoa é vítima de intolerância religiosa no Brasil. Os estados com mais casos registrados são Minas Gerais e São Paulo. Já em 2018 a imprensa divulgou que o número de denúncias aumentou. Isso sem contarmos com as centenas de agressões verbais do tipo “macumbeiro”, “trabalhador de Satanás” que o povo que veste branco costuma ouvir pelas ruas e quase nunca denuncia este tipo de agressão. Em plenos 2019, 12 anos após o Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa ser instituído, precisamos refletir sobre esta lamentável estatística.

RELEMBRANDO A HISTÓRIA
Precisamos relembrar que no dia 21 de janeiro de 2000 a Iyalorixá Mãe Gilda, do terreiro Axé Abassá de Ogum na Bahia, morreu vítima de um infarto. Poucos dias antes de sua morte, a Sacerdotisa foi agredida depois de ter sido acusada de charlatanismo e ter sua casa e pessoas de sua comunidade violentamente agredidas por intolerância religiosa.
A Igreja Universal do Reino de Deus publicou uma matéria com a foto da Iyalorixá com uma tarja nos olhos com o título “macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida de clientes”. A repercussão da matéria publicada em uma tiragem de 1.372.000 exemplares pela Igreja Universal levou a ataques e agressões a Mãe Gilda e seu terreiro, que não resistiu e infartou pouco tempo depois. O terreiro ganhou a ação movida contra a Igreja Universal para recebeu 1 milhão de reais de indenização, apesar de no final do processo ter recebido apenas R$ 140 mil.
No ano de 2007 foi sancionada a Lei nº 11.635 em 27 de dezembro, instituindo o dia 21 de janeiro como o Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa.

SERÁ QUE ESTAMOS RETROCEDENDO?
Desde a época do Brasil colônia, os negros traficados para o Brasil eram perseguidos em sua fé, tendo início assim o sincretismo religioso, sendo este um artifício de sobrevivência da cultura e fé dos negros escravizados, entre os brancos colonizadores.
O surgimento da Umbanda em 1908 no Rio de Janeiro com a incorporação do Caboclo das Sete Encruzilhadas através do Pai Zélio de Moraes, veio como instrumento de busca de “inclusão e aceitação” a todos os espíritos que por ventura fossem hostilizados e não aceitos pelo Espiritismo tradicional de Kardec.
Poderíamos dizer, de certa forma, que o surgimento da Umbanda de Zélio já seria, por si só, um ato de convite a tolerância e aceitação de todos, sem distinção. Entretanto, entre os anos de 1920 e 1930 muitas casas chamadas de “macumbas” no Rio de Janeiro, foram atacadas pela polícia e terreiros foram fechados. A perseguição policial aos praticantes de religiões de matrizes africanas levaram a prisões, fechamento de tendas e a necessidade de “disfarce” por parte dos praticantes por uma questão de sobrevivência.
A Declaração Universal de Direitos Humanos criada pelo ONU – Organização das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, prevê em seu artigo primeiro que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.”
Em plenos anos de 2019, depois de mais de setenta anos da Declaração Universal de Direitos Humanos, vemos um Terreiro de Candomblé na Bahia Ilê Axé Ojisé Olodumare ser assaltado durante uma gira, tendo o Pai de Santo Babà Rychelmy Esutobi agredido e até os Orixás incorporados não foram poupados pelos marginais, sendo revistados com xingamentos à religião. Onde será que vamos parar?

FAÇAMOS A NOSSA PARTE
Todos nós, praticantes de religiões de matrizes africanas, precisamos fazer a nossa parte. Em primeiro lugar dando exemplo de amor e tolerância, acolhendo sem distinção, todos àqueles que nos procuram em busca de um consolo. Mas, não podemos fechar os olhos para o que está acontecendo com nossos irmãos de fé e precisamos ser atuantes esclarecendo a população sobre nossas práticas de amor e caridade e denunciando quando for preciso.
Vale lembrar que o serviço do Governo Federal para receber denúncias de intolerâncias de qualquer gênero, inclusive intolerância religiosa, continuam ativos. Denuncie através do portal http://www.disque100.gov.br/ ou pelo telefone Disque 100.

Saravá Nossa Umbanda!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *