Pode não parecer pertinente esta matéria no contexto desta obra, mas não podemos nos omitir. É lamentável que no país de maior diversidade cultural, étnica e religiosa ainda estamos à mercê das perseguições aos terreiros dos Cultos Afro-Brasileiros. Antigamente era a polícia, a Igreja Católica e a imprensa sensacionalista. Agora são os evangélicos e os bandidos (a mando de quem?).
No mesmo periódico, n. 56, de 20 de maio de 1920 outra matéria foi publicada: “Foi negado o habeas corpus a Pai Procópio”. Na matéria podemos ler: Pai Procópio não se deu por vencido.
Recorreu a um advogado e este impetrou uma ordem de habeas corpus, em seu favor. Na sessão de ontem, porém, o colendo Tribunal Superior recebeu o pedido do habeas corpus para Pai Procópio, resolveu não atender às pretensões alegadas. Tendo sido, portanto, negado o referido pedido.
Procópio Xavier de Souza, Procópio de Ogunjá, foi iniciado por Marcolina da Cidade de Palha. Ficou famosa no seu terreiro a feijoada anual oferecida a Ogum – patrono do terreiro –, que mais tarde ficou conhecida como “Feijão do Procópio”. Um fator fundamental para o seu reconhecimento foi o fato de ter participado da legitimação da religião dos Orixás (do Candomblé), durante a perseguição às religiões Afro-Brasileiras promovida pelas autoridades do Estado Novo. Pai Procópio desencarnou em 1958. No dia 13 de janeiro de 2019, O Correio, jornal de Salvador, publicou uma lamentável ação de bandidos ao Terreiro Ilê Axé Ojisé Olodumare (A casa tem aproximadamente 15 anos e é de raiz de Pai Procópio de Ogunjá), onde roubaram celulares e bateram no Pai de Santo.
Membros do Terreiro Ilê Axé Ojisé Olodumare após o lamentável ocorrido
O Correio, 13 de janeiro de 2019
Segundo o periódico:
A noite era destinada ao pai de todos os Orixás. O culto sagrado a Oxalá do Terreiro Ilê Axé Ojisé Olodumare, de Barra do Pojuca, na cidade de Camaçari, Região Metropolitana de Salvador, foi invadido por seis homens armados na noite desse sábado (12). O Pai de Santo (Babalorixá) da casa e um fotógrafo foram agredidos com uma coronhada na cabeça, cada. Integrantes do terreiro relatam que os bandidos chegaram a tentar roubar celulares de pessoas que estavam incorporadas.
A festa, aberta ao público, era a primeira do ano realizada no terreiro. Além dos próprios membros do Ilê Axé Ojisé Olodumare, os convidados também foram assaltados e um carro foi levado pelo grupo. Durante a abordagem, os seis homens proferiram palavras contrárias ao Candomblé.
O Babalorixá Rychelmy Imbiriba e o fotógrafo que registrava a festa foram levados para a emergência e tiveram que levar pontos no rosto por conta das coronhadas. O nome do fotógrafo não foi divulgado. Testemunhas relataram ao Correio que pessoas idosas que estavam no local chegaram a passar mal durante a ação.
Durante ação, os invasores também roubaram ferramentas e instrumentos sagrados dos Orixás da casa. O Babalorixá foi agredido enquanto tentava falar com os bandidos que eles não precisariam de uma força tão ostensiva e que os presentes iriam entregar os pertences a eles, sem agressão.
Fica a pergunta: Seriam realmente ladrões???
Fica registrada a nossa solidariedade ao Terreiro Ilê Axé Ojisé Olodumare e a todos os terreiros que sofrem perseguições de toda sorte por este Brasil afora.
Como dizia Renato Russo: Que país é esse?
A Lei 7.716/89, também conhecida como ”Lei Caó”, diz:
Artigo 1°: Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA É CRIME!
Editor: Diamantino
Fernandes Trindade