O ato de fazer oferendas aos deuses é muito antiga. Desde tempos remotos, sobretudo, quando pouco se sabia sobre os fenômenos da natureza como chuva, vento, sol ou mesmo sobre as estações do ano, fazia-se oferenda para agradecer a chuva, por exemplo, que fertilizada a agricultura, ou ao Deus Tupã para agradecer que o sol tinha nascido mais uma vez.
Com o desenvolvimento da ciência e a compreensão dos ciclos da natureza, veio a compreensão que mesmo que não se fizesse oferendas, o sol e a chuva viriam da mesma forma. Assim a prática de se fazer oferendas a esses elementos da natureza ficou cada vez menos popular.
Os hebreus acreditavam que era necessário oferecer sacrifícios a Deus como forma de pedido de proteção. A Bíblia Sagrada em Êxodo, no Antigo Testamento, narra que os hebreus deveriam pintar os umbrais de suas portas com o sangue de um cordeiro novo, macho de até um ano e a mancha do sangue nas portas serviria como um sinal de que aquela casa tinha a proteção Divina. Assim o anjo da morte não tocaria nenhum filho que estivesse dentro daquelas casas. Posteriormente, Jesus foi interpretado como o Cordeiro de Deus que vinha libertar o mundo dos pecados e o sangue que Ele derramou por nós libertaria toda a humanidade, assim não necessitando mais derramamento de sangue.
Naturalmente, essa é uma reflexão cristão sobre o sacrifício de Cristo e existem segmentos religiosos que não seguem as premissas de Jesus.
O Islamismo, por exemplo fundado pelo profeta Maomé, tem como evento religioso mais importantes a Festa do Sacrifício que marca o fim da peregrinação anual dos mulçumanos a Meca, quando ovelhas, cabras, vacas e camelos são sacrificados como símbolo da disponibilidade de Abraão em sacrificar seu filho Ismael para o Deus Allah. Na hora de ser sacrificado o menino foi substituído por um carneiro. De modo, que a tradição se perpetua até os dias atuais.
O Candomblé, seguindo a tradição Iorubá cultuada no continente Africano e trazida pelos negros escravizados ao Brasil, a imolação dos animais acontece para alimentar os ancestrais e essa mesma energia protege e alimenta os fiéis. Muitas outras oferendas de alimentos são oferecidos aos Orixás, como o amalá de quiabos para Xangô, a inhame com feijão fradinho de Ogum ou o acarajé de Iansã, o axoxó de Oxóssi ou o omolocum para Oxum, dentre tantos outros.
O que são as oferendas na Umbanda e como elas acontecem?
A premissa número um de todo umbandista é o respeito a natureza. De modo, que qualquer oferenda umbandista deve respeitar em primeiro lugar a natureza. Então, o Umbandista consciente de seu papel de guardião da natureza não deve utilizar materiais que não sejam biodegradáveis em suas oferendas. Há muitos anos já abolimos o barquinho de isopor para Iemanjá, por exemplo, que só polui o mar e não se decompõe. Ao invés disso, oferecemos rosas e perfume de alfazema (sem o frasco) como forma de agradecimento e de demonstração do nosso amor a mais querida e cultuada de todas as yabás no Brasil, que a nossa Mãe Iemanjá.
Como a Umbanda é cristã, aceita, portanto, o Mestre Jesus na figura sincretiza de Oxalá, dispensando o sacrifício animal (tese defendida por Pai Ronaldo em Congresso umbandista e aceito por unanimidade). Respeitando totalmente a Umbanda que aprendemos com o Pai Zélio de Moraes dispensamos essa prática.
Nossas oferendas costumam ser, em seu maioria, flores, frutas, velas, fumo e bebidas que oferecemos aos Orixás ou aos Guias como forma de agradecimento ou homenagem, pois sabemos que a energia daquele elemento e sobretudo, a energia de amor e fé que é colocada naquela oferenda, será manipulada pelos Guias Espirituais conforme a nossa necessidade. O que há de mais sagrado em qualquer oferenda é, sem sombra de dúvidas, a intenção. Podemos oferecer um banquete de amor com uma simples rosa e uma vela, ou uma oferenda sem qualquer axé, se entregamos apenas por obrigação, ou sem entender o seu significado mais profundo.
A oferenda nada mais é do que um ato de amor e fé. Deve ser feita com respeito e devoção. Em cada etapa de sua elaboração, desde a escolha da fruta que será oferecida ao mimo com a qual se corta, até a forma de apresenta-la, em um alguidar de barro ou em folhas diretamente no solo. O tempo que a oferenda fica arriada não importa, o que importa de verdade é o quanto do seu tempo e energia você depositou naquele ato.
Oferendas no Santuário Nacional da Umbanda
Após uma longa jornada e muito empenho Pai Ronaldo Linares, através da Federação Umbandista do Grande ABC, conseguiu que a municipalidade destinado o espaço da antiga Pedreira Montanhão para os rituais das religiões de matrizes africanas.
No início da utilização do Santuário, a frequência era basicamente dos filiados da FUGABC , já que foi o primeiro espaço com essa destinação e muitos não conheciam. Ao longo dos anos o Santuário passou a ser referência para as religiões de matrizes africanas, tornando-se mundialmente conhecido.
Em razão disso a frequência aumentou e atualmente, felizmente, temos um grande números de religiosos utilizando-se do espaço. A alegria de ver toda a comunidade se apropriando do Santuário, traz uma preocupação: a manutenção e a limpeza. Muitos frequentadores são conscientes e severos nas questões religiosas, fazem suas oferendas da forma correta e com todos os cuidados com a natureza, que é a principal preocupação da Umbanda, juntamente com a caridade. Mas, infelizmente, uma grande maioria que não estuda a religião, mas a procura quando tem problemas em suas vidas, são orientados a fazerem algum tipo de oferenda, acender uma vela, tomar um banho de cachoeira, etc…
Essas pessoas, por puro desconhecimento fazem suas oferendas em sacolas plásticas, em copos descartáveis, deixam as flores envolvidas nas embalagens que trazem das floriculturas, achando que é a melhor forma de fazer. Não podemos culpá-los, mas sim é nosso dever orientá-los.
Nunca deixe material descartável junto com a sua oferenda;
Nunca coloque alimentos em sacos plásticos ou no chão, para isso temos alguidares e pratos de barro ou de louça. Copos também podem ser entregues de vidro. Alimentos para oferendas não podem ser processados (como lanches de fast-foods) entregues nas embalagens recebidas nos estabelecimentos.;
As águas das cachoeiras não podem receber óleo de dendê, que apenas sujam a água, inclusive para o próximo que for utilizá-la.
Dentro do Santuário existem vários recipientes para lixo. Leve uma sacolinha quando for fazer sua oferenda e deixe seu lixo na lixeira. Longe de sua oferenda.
Nosso Saravá Fraterno,