Ainda que vivendo no século do avanço intelectual, a quantidade de indivíduos orgulhosamente assumidos como conscientes é escassa e, por vezes, mesmo estes mostram-se inseguros frente aos autodeclarados inconscientes. Estar presente durante a incorporação é como cometer um crime para alguns e, para outros, é como ser um mentiroso mistificador.
A origem do falso fundamento que separa e classifica médiuns de acordo com seu nível de consciência pode ser encontrada, após algumas horas de procura, no poço de sentimentos humanos despertados durante as interações sociais: a falta de intimidade e plena desconfiança entre consulente e médium produziram um dos maiores – senão maior – erro da comunidade umbandista.
Numa tentativa desastrosa de eliminar o encargo de se lidar com a ética comportamental, casas inteiras afirmaram trabalhar sem um pingo de consciência; um “atestado de inocência” para qualquer evento. Nada é mais cômodo do que atrair multidões sem precisar conquistar um a um e ter a quem culpar quando um comentário rude for feito.
Fatalmente, a determinação sábia dada pela espiritualidade além de contrapor esse tipo de atitude também a exclui completamente de seus planos: alguém que não consegue se comportar de forma política é incapaz de ser um médium útil para o propósito dos espíritos luz. Tenha esse alguma ou nenhuma lucidez durante o processo de acoplamento.
Abrir os olhos e enxergar o mundo a partir de uma nova perspectiva cheia de opiniões a serem providas é o presente que recebemos de Deus e dos Orixás; devemos honrá-lo e aceitá-lo de bom grado. Obtivemos a chance de aprender com os mestres e mestras a partir de nossos próprios corpos, como espectadores de um grande espetáculo do pós-vida. Sejamos eternamente gratos pelas possibilidades de evolução que entregaram a nós no momento em que decidimos que trilharíamos o caminho da Umbanda.
Em nenhum tempo a finalidade desta dissertação é acusar ou menosprezar indivíduos que comprovadamente apresentam esse tipo de característica porque de fato a espiritualidade, em determinados momentos, trabalha de modo pouco claro aos olhos humanos. Mas é objetivo desta expor que a falta de consciência é raríssima e, sendo assim, certamente não será encontrada aos montes nos terreiros afora.
Com as décadas a passar e a Internet a surgir, tornou-se fácil espalhar, em mesma proporção, conhecimento e desinformação: o que antes era restrito ao “boca-a-boca“ propagou-se pelos quatro cantos do mundo e causou um descomunal desencontro entre perguntas e respostas. Este é o porquê da teimosa sobrevivência do preconceito velado contra médiuns reconhecidamente declarados despertos e a clara idolatria aos que permanecem em sono profundo.
Felizmente o contrapeso da balança existe e continuará a trabalhar incansavelmente para atestar que a beleza da caridade vai muito além das inseguranças do mundo.