Diamantino Fernandes Trindade

 Prezados leitores!

Neste número damos sequencia ao resgate da memória da Umbanda com a interessante matéria de Eurico Lagden Moerbeck.

Banhos de descarga e defumadores – Um olhar da década de 1940

Este é um tema recorrente no dia a dia dos terreiros de Umbanda. Por vezes as Entidades Espirituais recomendam determinados tipos de banhos de descarga e defumações. Nem sempre, porém, os consulentes ou os próprios cambonos tem a preocupação de pedir esclarecimentos, a essas Entidades, sobre a função de tais práticas. Mostramos a seguir um estudo apresentado pela Tenda Espirita Fé e Humildade, na reunião de 22 de outubro de 1941, por intermédio do Senhor Eurico Lagden Moerbeck, no Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo da Umbanda. É muito interessante notar a brilhante explicação sobre a atuação dos espíritos obsessores no corpo astral e no corpo físico da pessoa obsidiada, além da apresentação de uma síntese histórica sobre a ancestralidade do uso dos banhos e defumações.

“É comum ouvir”-se de pessoas mais ou menos cultas, ocupando posições de relevo na vida social, palavras de sincera estranheza acerca da recomendação frequentemente ouvida dos trabalhadores invisíveis na chamada Lei de Umbanda, quanto aos banhos de descarga e defumadores. Não podem compreender essas pessoas – e confessam-no em sua boa fé – que uma infusão de ervas silvestres de aroma nem sempre agradável ao nosso olfato, possa produzir efeitos terapêuticos em um organismo depauperado ou momentaneamente enfermiço. E por tal não compreenderem, deixam de executar as recomendações dos caboclos amigos, continuando a ostentar no seu ambiente físico as causas que as levaram às sessões (Naquela época, as giras de caridade eram comumente denominadas de sessões, por analogia às sessões espiritas kardecistas).

Outra prática com a qual não concordam muitos dos leigos no assunto, é a dos defumadores individuais ou coletivos, como meio de se libertarem das más influências que porventura os persigam. Alegam, alguns, que semelhante prática só poderá ter cabimento em ambientes destituídos de certa cultura, no meio dos simples e humildes, e nunca entre pessoas esclarecidas que nenhum alcance descobrem em trabalhos desta natureza. E não há de ser pequeno o número das pessoas que se sentiriam diminuídas perante si próprias e os seus familiares, se uma visita às surpreendesse de fogareiro à mão a percorrer, atentas, todos os recantos do seu confortável palacete, a espargir delicados évolos de fumaça impregnada de incenso, mirra ou benjoim, ou dos três para um mesmo efeito. Certo não encontrariam de pronto, para dar à visita, uma explicação bastante credível que lhe não transmitisse a convicção de se encontrar em face de alguém que frequenta sessões espiritas.

Não há, porém, nenhuma novidade para os atuais viventes da terra, na adoção dos banhos de descarga como meio de restabelecer o equilíbrio orgânico, nem no uso de defumadores aromáticos para a limpeza do ambiente psíquico.

Tanto um quanto outro datam de tempos imemoriais, e foram adotados por todos os povos cultos do passado, constituindo ainda uma prática generalizada entre várias das raças espiritualmente mais adiantadas do presente. Entre os hindus como entre os fenícios, duas das raças orientais mais evoluídas do passado, assim como entre os gregos, godos e visigodos que imperaram por largos séculos no Ocidente, os banhos aromáticos e a queima de resinas odorantes constituíam hábitos a que não se escusavam as suas mais nobres figuras, Faziam-no – sabemos hoje – não por um simples apego à tradição avoenga (Ancestral) ou por um diletantismo qualquer, mas, sim, por um principio de higiene psíquica, para manter à distância os inimigos ocultos, ou, segundo os dogmas religiosos de então, para tirar o demônio do corpo. Ora, isto nada mais representava que uma prática perfeita de alta magia, ensinada e recomendada aos seus contemporâneos pelos magos ou oráculos de então, que outra coisa não era senão os espiritas de hoje. Como os trabalhos de passes magnéticos não existissem naqueles tempos, os banhos e defumadores realizavam o tratamento.

Esta é a síntese histórica dos atuais banhos de descarga no organismo humano que consiste na limpeza dos fluídos maléficos nele depositados por entidades perturbadoras ou malfazejas, com a intenção de transmitir a enfermidade àquele que lhes caiu no desagrado.

Tais entidades conseguem os seus objetivos pela aproximação da criatura que desejam perturbar, espargindo sobre ela, ou na parte que lhes parecer mais suscetível, os fluídos maléficos de que são portadores. Pela delicadeza de sua constituição e pela importância de sua função no organismo, quase sempre são os pulmões, o fígado, os rins ou o coração, os órgãos mais diretamente visados. Sobre eles os obsessores vão concentrando os seus fluidos dia por dia, ao mesmo tempo em que vão transmitindo ao espirito da criatura a ideia persistente da doença, até conseguirem impressioná-la.

Desta ação invisível resulta, não raras vezes, o calvário de numerosas criaturas. Certas de que estão sofrendo do coração, por exemplo, dirigem-se ao médico, a quem relatam tão pormenorizadamente os sintomas da moléstia, que este não pode deixar de concordar com elas. Ao examinar o coração, porém, não encontra o facultativo (Médico) a confirmação do que ouviu, porque esse órgão entrou a funcionar com admirável precisão. É que o obsessor está presente e removeu os fluidos para o fígado, a fim de desviar a atenção do clínico e transformar-lhe o diagnóstico. Examinando este órgão, encontra-o o médico positivamente afetado, não lhe sendo difícil convencer o cliente de que tudo quanto ele sentia e julgava ser do coração, era de origem hepática. Receita, pois, para o fígado, e o doente inicia o tratamento.

O obsessor, entretanto, que é inteligente, remove novamente os fluidos para o coração e deixa o obsidiado esgotar o tratamento hepático. Se este volta ao médico para lhe dizer que não melhorou, o facultativo, certo da sua ciência, examina-o mais atentamente, concluindo ainda uma vez que o coração nada tem. Já então percebe qualquer irregularidade no funcionamento do baço e concilie que deve ser este órgão realmente afetado. Imagina logo ter-se equivocado muito provavelmente na vez anterior, desviando sua atenção para o fígado. Receita desta vez para o baço e o paciente submete-se ao novo tratamento. Novamente o obsessor, para desconcertar os dois, desviara os fluidos para o baço, deixando livres o coração e o fígado. E assim continuará o sofrimento da criatura, com possibilidade de ter de suportar até intervenções cirúrgicas dolorosas, se alguma entidade amiga, o seu Guardião, por exemplo, não intervir em seu favor.

Imaginemos agora que assim aconteceu, e doente encontra meios de comparecer a uma sessão da chamada  Lei de Umbanda. Conduzido à presença do Guia, trata este inicialmente de investigar o seu ambiente psíquico, que se encontra seriamente perturbado pela ação fluídica de um ou mais obsessores. A primeira coisa a fazer, então, é a atração dos obsessores ao recinto dos trabalhos, donde são enviados ao Espaço, afim de que se regenerem no meio daquelas falanges de trabalhadores. O doente, entretanto, ostenta uma boa carga de fluidos maléficos nele deixados pelo obsessor, e que se torna urgente retirar para restabelecer o equilíbrio orgânico.

Para a retirada, pois, desses fluidos, são recomendados tantos banhos de descarga quantos forem requeridos pelo seu estado, e que devem constituir séries de três, sete ou vinte e um, segundo a indicação do Guia, os quais deverão ser tomados em dias seguidos, sem nenhuma interrupção, para que o efeito corresponda à necessidade do doente.

O defumador passa a ter, aí, um papel de relevo na limpeza do ambiente. A queima das substâncias indicadas para este fim, e que tanto podem constar de ervas secas escolhidas pelas suas propriedades magnéticas, como da reunião de resinas aromáticas apropriadas, – produz no campo mental do doente uma espécie de profilaxia, expulsando de lá as entidades incompatíveis com os elevados sentimentos do bem e da fraternidade espiritual. A elevação de uma prece a Jesus durante o defumador, e a salvação aos nomes das entidades graduadas da Lei de Umbanda, ou daquelas santificadas pelo seu devotamento à causa sagrada da humanidade, tem a virtude de atrair algumas falanges de trabalhadores invisíveis, que passam a cooperar na limpeza psíquica do ambiente doméstico.

E aí reside uma das causas por que o Espiritismo (Naquela época considerava-se a Umbanda como uma modalidade de Espiritismo) consegue realizar curas consideradas impossíveis pela ciência contemporânea, depois de esgotar os recursos aconselhados à especialidade. É que, em se tratando de m ales de origem psíquica, a sua cura só se poderá processar no mesmo plano, pelo conhecimento e remoção das respectivas causas. Quase se pode afirmar que, hoje em dia, oitenta por cento dos males que afligem a humanidade, provem daquela origem.  A ciência combate efeitos; mas se as causas persistirem, só o Espiritismo as removerá”.

 

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