BRUXOS E BRUXAS

A Imprensa (RJ), n. 754, 30 de outubro de 1908

Lembrando-se dos tempos felizes da idade média, em que reinava a alta e negra magia, recordando-se das bruxarias fantásticas de McBeth, em noites soturnas e tempestuosas, aos sons infernais da música do sabbat, Maria Elydia dos Santos (que blasfêmia!), Rita Maria da Conceição, Ann Luiza Pereira da Silva e Abelio Gomes se entregavam ao exercício da feitiçaria, em Bangu, empregando as seguintes drogas: paus de Guiné, caixinha com areia, canecas contendo pedras e água, tábuas com cruzes a giz, facas espetadas nas paredes, pólvora, espelhos pequenos, santos quebrados, peles de cobras, batatas secas, bichos de várias espécies, entre os quais um pitecantropos, cuja feição característica e quase humana, não deixou de intrigar as autoridades policiais pela extraordinária semelhança com a espécie racional do nosso planeta.

Todos esses bruxos e bruxas, apesar de presos em flagrante, foram soltos pouco depois, por haverem pagado fiança, requerida por uma autoridade policial, o escrivão da 4a Delegacia Suburbana.

 

FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO

A Imprensa (RJ), n. 275, 10 de setembro de 1908

Os santos Xangô, Jurema e Rei Naná

Sábado último, entrou pela Delegacia do 11o Distrito Policial, Ernesto Barroso da Silva que foi se queixar de haver aparecido pela manhã desse dia uma caveira humana à porta da casa onde reside, com sua amante Alexandrina Maria dos Prazeres, à Rua Major Pinto Sayão, n. 29, no morro do Livramento.
Disse Barroso que na mesma casa moravam outros inquilinos, sendo locatária Alexandrina e que costumava frequentá-la o cabo do Corpo de Bombeiros do Estado do Maranhão, João Henrique de Oliveira em serviço atualmente na Exposição Nacional, pernoitando ali, por este motivo, o cabo Henrique, algumas vezes.
Barroso, que não via com muito bons olhos a presença de Henrique naquela casa, começou a implicar com ele até que na quarta-feira, chegando Henrique, tiveram uma altercação, nada havendo, porém, devido à intervenção de outros inquilinos que os apaziguaram. Entre estes estavam os de nomes Pedro Edmundo e Pedro dos Santos, que depuseram no inquérito, retirando-se o cabo Henrique que não mais voltou à dita casa.
Sábado, pela madrugada, Alexandrina despertada pelo latido do cão, chamou Barroso, dizendo que vira três indivíduos, dentre os quais reconhecera o cabo Henrique, saírem precipitadamente e, tendo ido verificar o que havia, encontrara uma caveira humana embrulhada em jornais.
Barroso saiu então a avisar uma praça de polícia que por ali rondava, indo em seguida dar queixa acerca do lúgubre achado.
O Delegado, Dr. Metelio Junior, desconfiado da narrativa que Barroso lhe dera, foi até a casa da Rua Pinto Sayão, 29, onde apreendeu a caveira humana, mandando abrir inquérito.
Intimada a depor, Alexandrina e demais moradores da referida casa, disse Alexandrina, que tinha como seus inquilinos Ernesto Barroso e mais os indivíduos citados acima, frequentando ainda a casa dela o cabo Henrique.
Que, quando encontrou a caveira, ficou muito assustada, mesmo porque, segundo disse, sempre que aparece uma caveira em casa, há atrasos e desgraça para os seus donos.
Os inquilinos referiram o que sabiam da briga de Henrique e Barroso, julgando isso sem importância, mas, que só viram a caveira humana quando Alexandrina lhes mostrara, dizendo que a foram encontrar à porta da rua.
O cabo Henrique declarou que quarta-feira fora à casa de Alexandrina pedir a esta que fizesse com que Barroso deixasse de o andar perseguindo e nessa ocasião Barroso o provocara, não tendo ele feito uso de arma alguma e, no dia que diziam haver aparecido a caveira, ele tomara o trem em Cascadura, onde mora, à 7 horas da manhã, e que só soube do encontro da caveira, quando presente na delegacia.
O cabo Henrique contou, então, que Ernesto praticava bruxarias e que dizia possuir remédios com os quais poderia curar qualquer moléstia.
Depondo ainda outras testemunhas foram elas unânimes em afirmar que na casa de Alexandrina se praticavam bruxarias. As sessões realizavam-se em frente de uma mesa com vários objetos próprios desses atos, e nelas Barroso defumava os presentes, lendo a sina de todos, invocando os santos: Xangô, Jurema, Rei Naná e a Mãe d’Água.
Submetido Barroso a interrogatório, confessou que, de fato, procedia a sessões, a rezas, com intuito de curar, dar sorte e outras tantas sandices.
Messias de Moraes, filho de Alexandrina, fez declarações que muito comprometeram a Barroso e Alexandrina, acrescentando que Barroso procedia às sessões substituindo o preto Hermenegildo, que era quem as dirigia a princípio.
Alexandrina alega que viu o cabo Henrique atirar no portão de sua casa a caveira, não ficando isso, porém, provado pelas demais testemunhas.
Ernesto não soube dar explicações acerca do aparecimento da caveira, pois o soubera por Alexandrina, que o fora acordar, mostrando-a.
O Delegado Dr. Metelio Junior apreendeu, além da caveira, um fogareiro próprio para defumar, uma vela, penas de galinha pintada, algas marinhas, búzios, dentes, uma garrafa, tendo dentro uma cruz e escadas, enfim, toda a sorte de mandingas com que Barroso fazia as suas sessões de feitiçaria.
O Delegado vai processar Barroso como incurso nos artigos 156 e 157 do Código Penal.
Virou-se, portanto, o feitiço contra o feiticeiro!

 

LOUCOS?

A Imprensa (RJ), n. 8 de novembro de 1913

Um caso estranho ocorreu ontem com os moradores de uma casa da Rua da Alegria – O resultado das seitas falsas

A Rua da Alegria, ontem, às 3 horas da tarde, esteve em verdadeira rebordosa, com um fato anormal ocorrido na casa n. 171. Àquela hora gritos de desatino partiam do interior da casa e tantos eram eles que um pouco diante da porta da casa juntava-se formidável massa popular.
Da Fábrica de Tecidos São João, que fica nas proximidades da casa, saíram quase todos os operários, atraídos pelos gritos. Eram homens, mulheres e crianças, em um número aproximado de mil pessoas que comentavam o que ocorria.
As portas da casa estavam fechadas e por isto foi chamada a polícia do 10o Distrito que pouco depois chegava. Ali foram ter o respectivo delegado Dr. Cid Braune, os comissários Rocha e Mello e guardas civis que ao chegarem, a custo penetraram na casa onde se passava uma cena edificante.
Os moradores da mesma pareciam invadidos de uma fúria diabólica! Em altos brados uns blasfemavam, enquanto outros choravam ou entoavam canções desconexas! Quem os visse diria encontrar-se em pleno manicômio, onde das celas fortes se houvessem escapado os mais infelizes dos loucos!
Uma criança, a meio da casa, de olhos vendados, pedia socorro em altas vozes.
As autoridades procuraram saber qual o mal que atacava àquela gente toda e todos eles diziam-se perseguidos por espíritos maus e afirmavam estarem sendo vigiados por um deus pertencente a lei de Umbanda.
Era impossível conduzi-los a pé até a delegacia ou mesmo em um veículo qualquer onde não se encontrassem isolados para evitar desatinos e por isto o delegado requisitou uma “Viúva Alegre” onde os meteu levando-os para a delegacia.
Eram eles; João da Silva Lucas, Antonio da Silva Lucas, José Corrêa Louzada, Maria da Silva Louzada, Manoel Correa Louzada, de 6 anos de idade; Manoel Rosa de Jesus, Antonio Silva, Mario Lucas e Pedro da Silva Lucas.
Ali ficou depositada essa pobre gente que à entrada da noite parecia já mais tranquila, embora se mostrassem arreceados uns dos outros.
O comissário Bandeira, que estava de serviço, fê-los guardar por diversos soldados, devendo ser hoje os infelizes remetidos para a Polícia Central.

 

FORAM TRÊS VEZES AO CEMITÉRIO ROUBAR CAVEIRAS PARA A MACUMBA

Última Hora (PR), n. 2178, 16 de maio de 1959

A reportagem de Última Hora deslocou-se na tarde de ontem, para o cemitério de Vila Formosa, a fim de ouvir a administração da necrópole sobre os acontecimentos verificados de quinta para sexta-feira de madrugada, quando, em uma verdadeira orgia, ladrões bêbados profanaram o campo santo e roubaram estatuetas, vasos para túmulos, velas, um grande crucifixo e uma caveira.
Foram eles, de acordo com o que publicamos em nossa segunda edição de ontem: Osmar Gomes de Oliveira, de 39 anos, casado, residente no Jardim Nova Iorque, chefe do bando; Hermínio Simões Ferreira, de 28 anos, casado, Rua Sete, 54, Vila Antonieta; Paulo Santos Galvão, 36 anos, casado, compadre de Hermínio e que com ele reside; e Diomid Gargalac, 33 anos, casado, Rua Sete, quadra 8, n. 14, Vila Formosa. Todos foram detidos por uma viatura da Rádio Patrulha, na Avenida Rio das Pedras, defronte aquele cemitério, quando retornavam da pilhagem, tendo a eles se juntado, posteriormente uma mulher, Benedita de Oliveira, esposa do chefe do bando, mas que saíra em busca do marido por causa da enfermidade de um dos filhos menores do casal.
Em palestra com o Sr. Sebastião Cordeiro, um dos administradores do cemitério de Vila Formosa, apuramos que grande parte do roubo ocorreu em uma casinha existente na parte Sul da necrópole, cerca de 300 metros da porta da entrada. Os ladrões, não conseguindo arrombar a porta, quebraram o vitrô e surrupiaram objetos. Antes de se retirarem, profanaram também alguns túmulos, completando assim a obra criminosa. Segundo ainda o Sr. Sebastião Cordeiro, foi esta a primeira vez que houve violação de túmulos no cemitério de Vila Formosa, em contradição com o que afirmaram os ladrões à reportagem, no dia de sua prisão, no plantão do D. I., quando declararam que tinha sido a terceira vez.
Continuando, finalizou o Sr. Cordeiro:
– A casinha onde se deu a maior parte do roubo, é destinada à guarda de ossos.
Consoante a versão dos próprios ladrões no plantão do D. I., a quadrilha roubara todos aqueles objetos com a finalidade de promover sessões de macumba. Em três outras oportunidades, foram bem sucedidos.

 

PROFANAVAM TÚMULOS EM CENTENÁRIO DO SUL PARA PREPARAR OS DESPACHOS!

Última Hora (PR), n. 2288, 22 de setembro de 1959

Há vários anos os habitantes de Centenário do Sul testemunhavam assombrados um fato fora do comum, a violação do túmulo de seus parentes e retirada de seus despojos.
Diversas queixas foram formuladas ao delegado. A violação, no entanto, não era efetuada frequentemente, o que dificultava o trabalho das autoridades policiais; em 9 anos, 11 cadáveres foram retirados do cemitério. Nunca se sabia o momento que os violadores agiriam.

Macumba: Curandeiros Profissionais

Designados para efetuar diligências, seguiu para o Centenário do Sul o agente Sebastião Roque, da Delegacia de Investigações e Capturas. Seu trabalho era prestar auxílio ao delegado local, tenente Paulo Vieira, nas investigações.
Após vários trabalhos, foram presos, como suspeitos, Bernardo Figueiredo, Maria Branca e Benedito de Lima que, interrogados, confessaram a autoria do delito. Quando instados a esclarecer os motivos que os levavam a praticar tão vil roubo, declararam-se praticantes da macumba. Bernardo Figueiredo era curandeiro profissional. Para efetuar as curas, necessitava esqueletos e só havia um meio de obtê-los: roubando-os do cemitério. Era auxiliado, neste mister, por sua amásia Maria Branca e por Benedito de Lima. Admitiu, realmente, haver se apossado dos 11 esqueletos. Após usá-los, atirou-os em um rio.

Prisão preventiva

Os violadores encontram-se recolhidos à cadeia de Centenário do Sul. Foi instaurado inquérito para puni-los. Sabe-se, outrossim, que já foi requerida a prisão preventiva dos indiciados.
Serão passíveis, como violadores de sepulturas e vilipendiadores de cadáveres a pena de prisão e multa.

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