Palo ou Las Reglas de Congo é culto, de origem Bantu, desenvolvido em Cuba pelos escravos oriundos da região do Congo. Outros nomes associados aos vários ramos desta religião incluem: Palo Monte, Palo Mayombe, Brillumba e Kimbisa. A vertente sincrética do culto é chamada de Palo Cristiano. O Palo Mayombe disseminou-se para a outros países da América central.
A palavra palo é uma referência à utilização de paus para confecção de altares e confecção de imagens. Outra versão, mais próxima da religião, aponta a equivalência entre as palavras palo e árvore, sendo as árvores os locais onde habitam os espíritos, segundo alguns cultos africanos.
Os adeptos do Palo são conhecidos como paleros ou nganguleros. A admissão ao culto é precedida de uma cerimônia de iniciação. A estrutura hierárquica segue o modelo familiar, o que é particularmente importante, porque, durante o período da escravidão, as famílias nucleares foram separadas, e as linhagens rompidas.
No universo Bantu, Deus é conhecido como Nzambi. Os espíritos cultuados no Palo são denominados de mpungos. Cada mpungo administra um determinado aspecto ou domínio da vida e da natureza.
O mais importante mpungo do Panteão de Palo é Nkuyu (Significa luz do mundo; uma referência à sua sabedoria em guiar nossas decisões), também conhecido como Lucero Mundo. Ele é o senhor das encruzilhadas, o deserto, o equilíbrio e a orientação. Ele é o dono de todas as estradas e portas e é fundamental para todas as práticas espirituais em Palo. Sem a sua permissão, o poder espiritual não pode fluir neste mundo. Consequentemente, ele é propiciado primeiro em cada cerimônia espiritual. (Percebe-se aqui a sua equivalência ao Exu cultuado na Umbanda e nos Cultos Afro-Brasileiros) Sua função é guiar e encontrar o equilíbrio de todas as energias que existem no universo e servir como orientador do povo. A respeito de Lucero Mundo, o palero e antropólogo Nicholaj de Mattos Frisvold tece as seguintes considerações: (FRISVOLD, Nicholaj de Mattos. Palo Mayombe: o jardim de sangue e ossos. São Paulo: Penumbra, 2018, p. 91).
Lucero é um nkisi essencial em Palo Mayombe. Alguns pensam, devido ao seu nome, Lucero, portador da luz, que ele é uma invenção. Mas não é. Na verdade, seu nome cubano revela mais precisamente sua função original, como o espírito que suscita comunicação entre os véus dos mundos. No nome Lucero, também é revelada uma crença africana e europeia de que faíscas de luz na noite representam, ou realmente são, espíritos cruzando a terra e o ar. O fenômeno de luzes cintilantes em torno do topo das árvores, tomando a forma de lampejos de luz que descem até suas copas, estão ligados especialmente a pinheiros e bambus. Estas fagulhas de luz são Nkuyu e a legião dos mortos que o seguem. Nkuyu é um espírito andejo que reside na floresta; a selva e a copa das árvores são seu domínio. Este é o princípio por trás de Nkuyu Nfinda, denotando a cintilante chegado do espírito sobre a terra, a fenda entre os mundos visível e invisível. Nkuyu traz consigo uma variedade de significados, dependendo do contexto, podendo significar “a alma de um falecido”, “uma sombra”, “um espectro” e um “fantasma”.
Lucero Mundo é um defensor tenaz e destrói seus inimigos, fechando todas as oportunidades em suas vidas. Os pedidos espirituais a Lucero Mundo devem ser feitos acompanhados de oferendas. Suas cores são vermelho e preto e seu número ritualístico é o 21. O sacrifício animal é usado para propiciar Lucero Mundo, além de Chamba (rum apimentado) e charutos. Suas oferendas são geralmente deixadas no deserto. Frisvold levanta alguns véus do mistério que envolve Lucero Mundo de maneira bastante poética: (FRISVOLD, Nicholaj de Mattos. Palo Mayombe: o jardim de sangue e ossos. São Paulo: Penumbra, 2018, p. 91).
Para Lucero, são sagradas as faíscas da forja do ferreiro, assim como as libélulas e os vagalumes. Todo fósforo que acende vida é ele, o enxofre é ele. Ele é lucifera, a pura experiência da matéria sensual e, portanto, não é exatamente ele, mas ela – e ingressa aqui o elemento mercurial que torna tão viável esta conclusão a respeito do sincretismo com Eleggua e Eshu, ainda que errôneos.
Lucero é o enxofre que abre a boca e profere oráculos. É os fumos sulfurosos nas montanhas délficas que concedem augúrios e imagens para a natureza. É as legiões de espíritos andejos que caminham pelo topo das árvores e trazem hordas de espíritos atrás de si. Este é Lucero, um espírito do vento que traz os seres do outro lado para falarem e se manifestarem.
Lucero Mundo é às vezes sincretizado com o Orixá Eleguá da Santeria, Eshu do Lucumi e Exu dos ritos brasileiros. Os adeptos do Palo costumam fazer pedidos para todas as finalidades. Por vezes, ele é sincretizado com São Pedro, outras, com São Norberto, mas os estudiosos mais eruditos, Frisvold, apontam como mais correta a associação à Anima Sola del Purgatorio, assim justificando a escolha: (FRISVOLD, Nicholaj de Mattos. Palo Mayombe: o jardim de sangue e ossos. São Paulo: Penumbra, 2018, p. 91).
Anima Sola ou Anima solas, as almas solitárias no purgatório, correspondem a Nkuyu. Ou, mais corretamente, Kikuyu, por serem legiões de almas errantes que estão no entre mundo. As chamas purificadoras do purgatório exprimem a natureza ardente de Lucero e harmonizam-se com Nkuyu como um espírito errante que se manifesta nas faíscas de luz espiritual ao redor dos topos das árvores. Sendo dessa natureza errante, ele atravessa todos os caminhos e qualquer estrada. Entender Lucero com base em seu reflexo como santo fornece um interessante fundamento espiritual que torna A Divina Comédia de Dante uma espécie de testamento do mundo de Nkuyu.
Na página http://reconstruindoexu.blogspot.com encontramos:
Lucero Mundo apresenta-se sob 21 formas diferentes:
Lucero Aprueba Fuerza: o senhor das ferrovias.
Lucero Busca Buya: o responsável pelas delegacias.
Lucero Casco Duro: o que vive nas lagoas.
Lucero Catilemba: o que trabalha junto a Kobayende (Omulu).
Lucero Endaya: o senhor das profundezas.
Lucero Jaguey Grande: o que vive nas montanhas.
Lucero Kabanquiriryó: o que vive nas trevas.
Lucero Kunambembe: o senhor do bem e do mal.
Lucero Madrugá: o que vive perto da Lua.
Lucero Monte Oscuro: o que vive nos trilhos.
Lucero Mundo Nuevo: o que vive nas prisões.
Lucero Patasueño: o que vive nas encruzilhadas.
Lucero Pitilanga: o que vive na praia.
Lucero Prima: o senhor do crepúsculo.
Lucero Rompe Monte: o que vive no teto das casas.
Lucero Sabicunanguasa: o que vive na beira do rio.
Lucero Siete Puerta: o que vive na escuridão.
Lucero Talatarde: senhor das doenças que vive nos hospitais.
Lucero Tronco Malva: o que vive nas quatro esquinas.
Lucero Vence Guerra: o que vive nos problemas.
Lucero Vira Mundo: o que vive nas portas dos cemitérios.
O assentamento de Exu Lucero Mundo é denominado de prenda. Os traçados riscados com giz, quando não iguais, muito semelhantes aos pontos riscados de Umbanda, são chamadas de firmas. Eis a firma de Lucero Kalunga: