Cada religião tem seu jeito de ser, que vai sendo definido, redesenhado e amoldado com o passar dos tempos e das suas próprias experiências, que levam a um conjunto de conhecimento que a define em cada momento da sua existência. As pessoas que compõem uma religião, pois afinal uma religião é feita por pessoas que assimilaram seus ideais, que foram arquitetados e desenhados por alguma outra pessoa, enfim, esse coletivo vai adaptando suas práticas de acordo com a necessidade e oportunidade, ou seja, o momento religioso, consciencial, social e político que assim exige.
A Umbanda passou e passa por esses momentos. Desde seu anúncio por Pai Caboclo das Sete Encruzilhadas através do seu médium, nosso saudoso Pai Zélio de Moraes, quantas mudanças vemos… Saímos dos fundos de nossas casas; encaramos o assunto “mediunidade consciente” de forma franca; nos assumimos como religião que verdadeiramente somos; assumimos as nossas vertentes e o surgimento de autores, psicógrafos diretos ou indiretos, que falam sobre os mistérios da Umbanda, coisas antes inaceitáveis; entendemos que estudar é importante, mas manter a confiança nos valores passados pelos nossos guias é vital; e muito mais que poderíamos encher essas páginas.
A Umbanda é a religião da natureza. E a natureza do ser humano é o bem, e para estarmos no bem é necessário desenvolver cada vez mais a consciência, porque cada vez mais conscientes estaremos cada vez mais na nossa natureza.
Difícil de entender? Sim, pode parecer, mas devemos lembrar que a Umbanda é religião e como todas as outras religiões, é um caminho que leva a Deus através dos seus métodos e formas.
É essa função das religiões, levarem a Deus, ou por essa linha de pensamento, levar a uma consciência tal que nos sintamos integrados ao Divino.
A Umbanda na sua essência é religião de pessoas livres, pensantes, formadoras de suas próprias opiniões e por conseqüência, nos faz pensar e desenvolver cada vez mais consciência.
Então a tão falada “evolução” poderia de uma forma bem simples, talvez simplista mesmo, ser definida como o desenvolvimento da consciência. Consciência de que não estamos sozinhos; de que há “algo maior”; da mediunidade; das experiências que levam ao conhecimento e à sabedoria; do exemplo que a espiritualidade (nossos amados guias) nos transmitem o tempo todo; de que o conhecimento é libertador!
Em um verdadeiro terreiro de Umbanda você nunca verá um guia, qualquer que seja, Caboclo, Preto Velho, Criança, Exu, Pombagira, Mirins, enfim, nunca verá nenhum deles falando mal de outro, ou de outra casa, ou de outra religião. Orientarão para o melhor caminho, sem denegrir nada nem ninguém.
Nunca verá um guia espiritual reclamando da sua vida, ou dizendo que se sente abandonado pelos Orixás. Nunca verá um guia dizer que não quer mais ser guia porque foi contrariado.
Nunca verá um guia de luz, um guia de lei, dando uma orientação para alguém proceder de forma viciosa, fora da lei dos homens, em nenhum sentido.
Nunca verá personalismo, ou seja, o guia falando que ele é o cara, se identificando fora da sua falange e que os outros são menores que ele. Ou dando desculpas que algo não deu certo porque a culpa é de outro guia.
E tem mais, se você ver isso em algum terreiro, fuja. Há mais de relação humana e mentes desfocadas do amor caridade do que espiritualidade verdadeira. Use o bom senso, isso também é um estado de consciência!
Ora, quer mais exemplo de consciência que isso?
Como poderíamos colocar isso em prática, no dia a dia, para melhorarmos a nossa própria vida e por conseqüência a vida à nossa volta?
Eu sugiro que cada um olhe com coragem e cuidado para si mesmo, compreenda onde precisa melhorar e assuma seu próprio caminho evolutivo. Tenha na religião uma ferramenta, um caminho oferecido pela Consciência Suprema, pelo Divino Criador e Sua Natureza, e sirva-se do que ela (a religião) pode oferecer. Faça da sua religião na sua vida algo para você viver melhor, no dia a dia, na prática, na convivência familiar, no transito, no respeito a todo ser vivo, semelhante ou não, principalmente o indefeso.
Eu deveria estar aqui falando de Ervas na Umbanda, certo?
Certíssimo, e estou! Imagine como ficarão seus banhos e defumações, seus benzimentos e trabalhos com os elementos da natureza quando você sentir que é parte dessa natureza e tiver consciência disso!
Imagine como ficará potente seu banho ou defumação quando você perceber energia movimentada pela vontade, pela ativação (consciente), pela profundidade da sua alma deixando cada vez mais de ser rasa.
Quando você entender que os elementos não são apenas elementos, são organismos vitais, capazes de nos sintonizar com as virtudes, pois afinal, tudo parte Dele e de Sua Natureza!
Uma erva não é só um formato, uma cor, um cheiro… é muito mais!
Estudar é preciso, alimentar o espírito com conhecimento é vital! O conhecimento é libertador e evita que sejamos envolvidos pelas tramas da ilusão acorrentadora.
O conhecimento não é confortável, é perturbador, chacoalha a alma e leva ao questionamento e à experiência. A experiência, boa ou não, leva à sabedoria. A sabedoria nos coloca num estado de consciência libertador.
Que as Virtudes de Nosso Amado Pai Criador, expressas na natureza dos Nossos Pais e Mães Orixás, possam nos abençoar da forma que compreendemos: Fé, Amor, Conhecimento, Razão, Ordem,
Sabedoria e Vida! Que toda essa Natureza nos abençoe!
Que assim seja e assim será!
Gratidão imensa, ainda e sempre!
Adriano Camargo
Erveiro da Jurema
Sacerdote de Umbanda, autor do livro Rituais com Ervas, banhos defumações e benzimentos.
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