PAI RONALDO LINARES
Pai Ronaldo Antonio Linares nasceu na década de 1930, na cidade de São Paulo e, quando jovem sofreu um sério acidente que lhe comprometeu a coluna vertebral. Conheceu e frequentou o primeiro Centro Espírita na Rua Luís Gama, no bairro do Cambuci, em São Paulo, o Centro de Seu Fabrício, como era conhecido na região. Frequentava as sessões espíritas, mas não deixava de ir à missa aos domingos.
Certo dia resolveu ir para o Rio de Janeiro. Foi uma época difícil, pois não conhecia ninguém naquela cidade. Em função do acidente, usava muletas e tinha muitas dificuldades de locomoção e certa facilidade de comunicação. Sonhava em fazer carreira no rádio. Não conseguiu emprego e passou a dormir na gare da Central do Brasil. Um dia, uma mulher, a Maria, o acordou e disse que ali não era um bom lugar para dormir. Chamou um táxi e o levou para um barraco no Morro do Pinto onde fizeram uma refeição e pode dormir, pela primeira vez no Rio de Janeiro, em uma cama. Com o passar dos dias passou a fazer pequenos serviços que lhe possibilitava ganhar alguns trocados.
Maria, preocupada com a sua saúde levou-o a um médico conhecido dela, o Dr. Nelson. Depois de algum tratamento, ele disse que já havia feito tudo que era possível pela medicina. Perguntou então, se não queria conhecer um Pai de Santo que, segundo algumas pessoas, fazia milagres. Foi apresentado a João Alves Torres Filho, o famoso Joãozinho da Goméia, o Rei do Candomblé, figura polêmica e que era muito procurado por artistas, políticos e outras celebridades. Passou a morar na sua Roça de Candomblé, onde foi raspado, cortado, catulado, feito no santo e consagrado Babalaô.
Durante o convívio diário com Joãozinho da Goméia, percebeu que quando as coisas ficavam difíceis, no âmbito espiritual, este procurava o “velho” na Pedra de Sepetiba. Com o tempo, Ronaldo foi se aproximando do “velho” que morava nas areias da praia. Sua cama era o fundo de uma canoa e seu teto algumas folhas de palmeira. Tinha uma memória extraordinária e conhecia como ninguém a arte do jogo de búzios. Foi com ele que Ronaldo aprendeu esta arte milenar e que exerce até hoje com maestria.
No âmbito da Umbanda, Ronaldo destaca-se como presidente da Federação Umbandista do Grande ABC, desde novembro de 1974. A FUGABC foi fundada em 13 de maio de 1972, por orientação do general Nelson Braga Moreira e tem atualmente mais de duas mil tendas filiadas, não só na região do Grande ABC, em São Paulo, mas em várias cidades brasileiras.
Radialista especializado em programas de divulgação da Umbanda e do Candomblé na Rádio Cacique de São Caetano do Sul, participou dos seguintes programas: Iemanjá dentro da noite, Ronaldo fala de Umbanda e, por quase dezoito anos consecutivos, Umbanda em Marcha, além da programação diária Momento de Prece.
Foi o primeiro a mencionar a figura de Zélio de Moraes em jornais de grande circulação em São Paulo: Diário do Grande ABC e Notícias Populares. Foi colunista do jornal A Gazeta do Grande ABC.
Na televisão participou durante quase quatro anos do programa Xênia e você na TV Bandeirantes. Participou como produtor e apresentador, durante seis meses, do programa Domingos Barroso no Folclore, na Umbanda e no Candomblé, programa dominical com duas horas de duração, na TV Gazeta.
Foi porta-voz oficial do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo (SOUESP), título que lhe foi concedido pelo General Nelson Braga Moreira. Recebeu diversas honrarias, dentre as quais destacamos a de Cavaleiro de Ogum, concedida pelo Círculo Umbandista do Brasil. No entanto considera a maior honraria de sua vida, haver conhecido em vida e privado da amizade do senhor Zélio Fernandino de Moraes, considerando-se filho espiritual de sua filha Zilméia de Moraes Cunha.
Em 1982, no Terceiro Congresso Paulista de Umbanda, apresentou uma tese sobre a proibição da matança de animais nos cultos umbandistas. A tese foi aprovada, porém conhecemos muitos terreiros de Umbanda que fazem sacrifícios animais.
Em 25 de janeiro de 2013, durante os eventos comemorativos do aniversário da Cidade de São Paulo, foi celebrada uma missa na Catedral da Sé onde autoridades de diversas religiões estiveram presentes a convite do Padre José Bizon, cônego da Arquidiocese de São Paulo. Pela primeira vez uma autoridade umbandista foi convidada para o evento: Pai Ronaldo Linares. Dom Odilo Pedro Scherer, Cardeal Arcebispo de São Paulo, recebeu Pai Ronaldo pessoalmente no centro da nave da catedral.
A Federação Umbandista do Grande ABC é uma entidade beneficente que tem a finalidade de congregar templos de Umbanda da região do ABC Paulista. Em razão da excelência de seus serviços, transformou-se na maior entidade federativa de Umbanda no Brasil, estando apta para registrar templos em todo território nacional. A sua sede localiza-se à Rua Visconde de Inhaúma, 354 – Vila Gerty, São Caetano do Sul, São Paulo. O templo sede, Casa de Pai Benedito de Aruanda, está situado no mesmo município, na Rua Marechal Cândido Rondon, 21 – Bairro Oswaldo Cruz.
O Santuário Nacional de Umbanda
Quando há quase quarenta anos, Ronaldo Linares observou uma enorme cratera formada pela exploração da brita na antiga pedreira Montanhão, vislumbrou que, com muito trabalho e dedicação, poderia transformá-la num local ideal para cultuar os Orixás.
A FUGABC promoveu a recuperação ambiental desta área de 645.000 m2 localizada na Estrada do Montanhão, 700, no Parque do Pedroso, em Santo André, São Paulo. O Santuário Nacional de Umbanda é parte integrante do Santuário Ecológico da Serra do Mar.
No site da FUGABC podemos ler a respeito da missão do Santuário:
A missão do Santuário Nacional de Umbanda é construir e disponibilizar um espaço propicio para o desenvolvimento humano e espiritual de todos aqueles que fazem parte de nossa da comunidade umbandista ou aos que desejam conhecer nossa religião, preservando o meio ambiente (fauna e flora), cultuando a religião de forma respeitosa, levando a palavra e os ensinamentos de Deus e de Zélio de Moraes a todos, zelando para que as práticas umbandistas sejam realizadas sempre para o bem.
Tudo é muito grande, muito bonito e, sobretudo, muito bem cuidado. São ao todo, atualmente, onze monumentos medindo, em média, 10 metros de altura cada.
Christiano Carvalho, do Diário do Grande ABC, escreveu em 2000:
Natureza e religião se unem em uma área verde de 645 mil m² na Estrada do Montanhão, em Santo André. Trata-se do Santuário Ecológico da Serra do Mar, mantido há 20 anos pela Federação Umbandista do Grande ABC, cujas instalações para a realização de cultos religiosos se espalham por 5% da área. O restante, composto por Mata Atlântica intacto, é preservado por meio de um esquema de segurança montado pela Federação.
Há um posto de observação, fincado em um dos muitos morros do terreno. Nem os usuários do Santuário Nacional da
Umbanda, como é chamado o complexo religioso lá instalado – onde são praticados os cultos – , tem acesso a essa área de proteção de manancial.
No início dos anos 1960, uma pedreira que funcionava em uma parte do terreno foi desativada. Nesse local, houve um grande desmatamento com o consequente empobrecimento do solo. A preservação da natureza é o principal lema do presidente da Federação, Ronaldo Linares que fundou o Santuário Ecológico.
As festas de Iemanjá
Tanto na Umbanda quanto no Candomblé, as festas de Iemanjá atraem multidões às praias brasileiras. A festa que ocorre todo final de ano na praia de Copacabana faz parte do calendário turístico do Rio de Janeiro. Na Bahia, a festa de Iemanjá do dia 2 de fevereiro é uma das mais populares do ano e atrai às praias do Rio Vermelho, em Salvador, uma multidão imensa de fiéis e admiradores.
No entanto, as festas de dezembro, no litoral paulista são as mais tradicionais, para os adeptos da Umbanda e do Candomblé. A primeira festa em homenagem à Iemanjá, na Praia Grande, foi realizada em 1953 por Félix Nascentes Pinto, fundador do Primado de Umbanda em São Paulo. O local foi denominado oficialmente de Vila Mirim, em homenagem ao Caboclo Mirim.
Os festejos à Iemanjá, de cunho oficial, na Praia Grande, tiveram início em 1969, na administração do prefeito Dorivaldo Lória Junior e contou com aproximadamente 15 mil pessoas.
Em entrevista concedida à Marques Rebelo, da Revista Espiritual de Umbanda, Ronaldo Antonio Linares fala sobre os aspectos históricos dessa importante festividade:
Por volta de 1957, 1958, iniciaram-se as festividades umbandistas em uma faixa do litoral sul de São Paulo. Criou-se, posteriormente, na cidade de Santos, uma federação, mas nesse início ainda não existia. A Federação Umbandista do Estado de São Paulo tentou realizar alguns eventos, mas sem sucesso. Depois, a Cruzada Federativa do Estado de São Paulo, na pessoa de seu presidente, o Sr. Barbosa, começou a realizar as festividades na Praia Grande. Mas o germe disso tudo foram algumas tendas que faziam as homenagens à Iemanjá sem a participação de federações. Não existiam ainda a Federação Umbandista do Grande ABC, nem a Associação Paulista de Umbanda, que depois viria a se tornar líder nessa área. As poucas federações que existiam, como a União das Tendas e o Primado de Umbanda, não haviam ainda demonstrado interesse. Nessa época, as festividades eram realizadas na Praia das Vacas, que fica entre a Ponte Pênsil e a Praia Grande. Ali havia alguns estabelecimentos militares, e, a princípio, não se importavam que o pessoal fizesse ali os seus ritos à noite. Por volta de 1964, no período posterior à revolução, começaram a criar dificuldades para que se fizesse as festividades naquela região, que era considerada militarmente estratégica. Passou-se então a se realizar as festividades na Praia Grande; primeiramente, começavam no Boqueirão e iam até a outra extremidade, sem muita organização.
Algumas tendas se estabeleciam aqui e ali, sempre no dia 8 de Dezembro. O erro do dia 8 de Dezembro, diferente de 2 de Fevereiro, que é a data em que é festejada na Bahia, e o sincretismo lá é feito com Nossa Senhora dos Navegantes, e não com Nossa Senhora da Conceição, aconteceu porque, na verdade, a primeira entidade que se interessou em organizar e realizar as festividades foi a Liga Umbandista do Estado de São Paulo, dirigida pelo saudoso Pai Jaú, que tocava um rito que nós poderíamos hoje classificar como Umbanda Mista ou “Umbandomblé”, porque tinha muito mais elementos do Candomblé. Mas era um visionário, e tinha um interesse saudável nas festividades. Ele imaginou fazer uma festa que fosse o encontro de Oxum e Iemanjá, por isso era realizada na data em que se comemora a Imaculada Conceição. Esse encontro era feito no fim da Avenida Costa e Silva, bem na entrada da Praia Grande, porque dali para frente ainda era muito selvagem, não estava tão edificada, não existia ainda Cidade Ocian. Pai Jaú realizou essa festa por vários anos naquele local e eu descia, naquela época, só com a Casa de Pai Benedito. Não havia a Federação do Grande ABC.
Por volta de 1967, conheci o Demétrio Domingues, e, naquela época eu fazia um programa de Umbanda na Rádio Cacique. Fizemos amizade e ele me levou ao Superior Órgão de Umbanda. Lá eu conheci muita gente boa, contávamos com um pessoal muito bom, principalmente o General Nelson Braga Moreira que, por orientação do Demétrio, o coordenador geral do SOUESP foi quem realmente organizou os festejos à Iemanjá. O grande mérito das festas devemos ao Sr. Demétrio Domingues.
À medida que essas festividades foram avançando, conseguimos levar um número impressionante de gente para lá, havia um terreiro de Umbanda em cada quadra de São Paulo. Nessa fase, chegamos a levar aproximadamente 750 mil pessoas para a Praia Grande, o que causava um transtorno, pois a ocupação da praia era total, praticamente uma tenda a cada 15 metros. Foi o grande boom da Umbanda, isso, a partir de 1970. As décadas de 1970 e 1980 foram as mais ricas, foi a época das grandes festividades no litoral. Em 1972, quando foi criada a Federação Umbandista do Grande ABC, nós já tínhamos organizado, em nome do programa radiofónico que eu comandava, uma alegoria para a festa.
Atualmente a Federação Umbandista do Grande ABC realiza a Festa de Iemanjá no Município de Mongaguá.