Salve sagrado irmãozinho e irmãzinha em Mamãe Natureza.
Salve leitor amigo e dedicado observador da natureza em tudo.
Antes de falarmos sobre as ervas nesse mês, quero falar um pouco sobre a natureza e como a religião se envolve com ela.
Quando lemos nos tratados literários sobre a religião de Umbanda, invariavelmente encontramos essa afirmação, de que somos a religião da natureza. E os diversos cultos, afro descendentes afirmam também que o são. E as fantásticas religiões que usam os elementos naturais em sua liturgia também afirmam que são elas. Enfim, todas estão, ou qual estaria fazendo a afirmação mais correta sobre si mesma?
Ao falar sobre a natureza, devemos lembrar qual a natureza, certo. A Umbanda é a religião da natureza de elementos, ou seja, do uso dos elementos naturais em sua liturgia, a Terra, a Água, o Fogo e o Ar, como a maioria das religiões tradicionais e ditas naturais, e após a chegada de uma teologia coerente, forte no sentido do entendimento das Coisas Divinas, os elementos complementares a esse sistema quádruplo já estabelecido que formam a coroa sétupla, o Cristal, o Mineral e o Vegetal. Assim fechando o Setenário Sagrado.
Após esse entendimento, exteriorizado de forma que nosso mental humano possa compreende-lo, através de nossos amados Pais e Mães Orixás portadores dos sentidos, irradiações e emanações divinas dos elementos, cada um participando integralmente da criação, manifestando o seu sentido unigênito e seu elemento primordial, vemos a Umbanda como a religião da ligação do ser humano com sua origem Elemental.
Na Umbanda nosso entendimento acerca dos Orixás é energético, magnético, natural e elemental, mas não recorremos a lendas humanas e à humanização de seus sentidos para comprende-los de forma integral, apenas parcial ou fatoral. Na Umbanda as linhas de trabalho lidam cada uma, com uma ou mais partes desse sistema arquetípico que traz a principal natureza de suas obras: A NATUREZA HUMANA.
Isso mesmo, além de manipular os elementos da natureza, a Umbanda lida com a natureza humana em todos os sentidos, gêneros e fatores.
Não esperamos que os consulentes venham já prontos, limpos e cheirosinhos para os trabalhos espirituais, pois lidamos com a natureza magnética, energética de cada um. Somos a linha de choque com os sentidos negativos HUMANOS.
Ao apreciar uma paisagem agradável, o homem sente-se bem. Uma floresta harmônica em seu desenho, relevo, cores e cheiros; uma cachoeira que ao cair de águas, reflete a luz do sol; a lua cheia num céu infinitamente estrelado; o pôr do sol de outono e o nascer do sol no inverno com seus tons avermelhados.
Tudo isso, ao ser observado pela ótica humana, remete a um sentimento de paz, tranqüilidade, prazer espiritual. Então podemos dizer por analogia que a natureza do homem é tudo isso: a paz a tranqüilidade a harmonia, ou O BEM, retratados nesse fantástico livro da vida que é a Natureza Viva de Elementos.
Da mesma forma, ao observarmos a fome, a miséria, a morte na guerra ou na violência urbana, somos remetidos a um sentimento confuso de impotência, asco, nojo mesmo. Então nos resta afirmar que Deus, na sua infinita bondade, coloca a natureza à nossa volta para que nos, seres humanos conheçamos nossa natureza mais intima, se relacionando com aquilo que mais nos agrada.
Eu falo isso por mim, mas poderia estar falando por milhares de pessoas viventes em todo o mundo. Um número (ainda bem) pequeno de pessoas tem um gosto diferente. Poucos sentem prazer no mal, na violência e na guerra.
Concluímos que, ou o ser humano está no bem, ou ainda não compreendeu o sentido da vida.
A forma da Umbanda lidar com cada um de nós, no momento que estamos vivenciando, é a manifestação de várias personalidades Divinas personificadas nas linhas de trabalho. A alegria e desenvoltura dos Baianos; a austeridade dos Caboclos; a pureza e felicidade das Crianças;, a simplicidade dos Pretos Velhos; a firmeza dos Boiadeiros; a coragem, determinação e imposição de força de Exu e Pomba Gira, são essas formas na Umbanda.
Tudo muda, a tecnologia impõe um ritmo acelerado na evolução, mas os tipos humanos continuam os mesmos, e a natureza humana do bem é a mesma.
A Umbanda ensina como filosofia de vida, a busca do bem comum. A convivência pacífica, a felicidade dos sentidos, a abundância, a alegria, enfim, precisaríamos de muitas páginas para descrever as bênçãos que estão dentro da filosofia umbandista.
As ervas trazem como baterias carregadas de poder realizador, energia, verbos atuantes e fatores divinos, a possibilidade de aliarmos a permanência do Poder Divino em nós e em nosso meio.
O elemento mais parecido com nosso organismo humano são as ervas, o elemento vegetal, pois nasce, cresce, se multiplica e retorna à terra, ou a seu elemento de origem sustentadora.
Um cristal em qualquer estado que se encontre, ainda é um cristal. A água pode alterar seu estado (sólido, liquido, gasoso) e não deixa de ser água, e assim todos os elementos exceto o vegetal.
Sua estrutura orgânica se assemelha à nossa, humana, por isso, os fatores contidos nas ervas são facilmente compreendidos pela nossa estrutura energo-magnética.
Associar ervas aos sentimentos positivos, assim assimilando-os e comparando-os aos Orixás, é a forma mais correta de encontrarmos o “Orixá da Erva” ou a Erva do Orixá.
Não apenas o formato da folha, seu perfume mais ou manos doce, ou a cor da erva são os pontos determinantes para essa associação.
Use a cabeça, discuta, quebre os padrões, experimente banhos e defumações diferentes do padrão, sempre seguindo as regras de amor e bom senso.
Muitos não entendem isso, mas evoluir é estudar e aprender sobre o ambiente e a natureza em que estamos vivendo e aplicar o que aprendemos imediatamente.
Seja seu próprio guru, mestre de si mesmo, encontrando a divindade em si, na sua natureza do bem. As religiões são ferramentas, e seus religiosos também estão evoluindo.
Através do conhecimento teremos cada vez mais uma Umbanda forte, coesa e pronta para crescer. Sempre teremos críticos e pessoas que verão a religião como fonte de renda e status, mas isso faz parte do crescimento.
Queira uma religião que lhe bata, torça o pescoço, coloque no eixo, aperte seu calo, mas que lhe dê também conforto, respeito e dedicação e que respeite quem demonstre conhecimento, assertividade, vontade de aprender e ensinar. Queira orientação, direção e competência. Mas participe de tudo isso!
Nada menos interessa! Nós acreditamos no ser humano, mesmo quando cai no orgulho e na vaidade acreditando ser ele o único bem divino.
Eu vim para aprender e ensinar, e você?
A natureza é, verdadeiramente o único livro escrito por Deus. Nas páginas de sua criação, os elementos naturais convergem à natureza humana de forma graciosa, simples e sutil.
Aquele que compreender isso, certamente terá lido o livro da vida.
Adriano Camargo
Erveiro da Jurema
Sacerdote de Umbanda, autor do livro Rituais com Ervas, banhos defumações e benzimentos.
adriano@ervasdajurema.com.br
www.oerveiro.com.br