Professor Mirabelli. Além de ser o maior metérgico do mundo, é também um grande coração humanitário
Correio Paulistano (SP), n. 25053, 12 de novembro de 1937
Constante leitor.
Nós, abaixo assinados, Gustavo Bekmann, João Theodoro de Oliveira, José Baptista da Costa, Afrânio Nogueira, Anna Abranches, Gustavo da Silveira, Nicanor Saraiva Silva, Edmundo Ferraz Achilles Alves Braga, Vicente Levindo Camargo Machado, Epaminondas Alves Lima, Maria do Carmo Machado, Benedicto de Andrade, Alfredo Gomes Noronha, João Albuquerque, J. Azevedo Braga, Orlando de Melo Nasti, Humberto Tulli, Juvenal Pereira Leme, F. Assis Brandão, Godofredo Rezende, Miguel Parmi, Antonio Fernando de Fernandi, Brasilina Martins, Belmiro Martins, Augusto Telles do Amaral, Jacob Chimidt e Olavo Leite, movidos por um espontâneo sentimento de gratidão, vimos, por este meio, expressar o mais vivo reconhecimento pelo alto gesto de generosidade, que, comovidamente, acabamos de receber da parte do eminente metérgico brasileiro e conhecido filantropo Professor Carmine Mirabelli.
Da mesma forma porque se agradece, de público, a um facultativo, as curas do físico, seja-nos lícito, também render uma homenagem de gratidão aquele que, espontaneamente, nos presta um valiosíssimo auxílio material, que bem se enquadra numa importante cura de forma moral.
Este movimento coletivo de reconhecimento da nossa parte, esperamos, há de causar, na consciência dos ingratos de tantas benemerências derivadas ao eminente professor Mirabelli, uma profunda intuição das injustiças que persistem em cometer ao seu nome e à sua obra.
E é das mais ponderáveis a razão desta nossa atitude que envolve simpatia ao benemérito cidadão.
Sim, porque o que ele nos fez, transpõe as raias da benevolência humana e dos sentimentos do mais perfeito coração.
Éramos devedores ao professor Mirabelli, em espécie, representada por letras, hipotecas, aluguéis, carta de fiança e outros compromissos assinados, todos já vencidos.
Que faz então o benemérito professor Mirabelli?
Ao invés de mandar que se processasse a execução destes débitos, como aos capitalistas? Não.
Prepara-nos, simplesmente, a maior surpresa de todas as surpresas!
Após haver ouvido de nós, particularmente, a situação em que nos encontrávamos, impossibilitados de saldar essas dívidas, espontaneamente, piedosamente, humanitariamente, ordena ao seu escrupuloso procurador, Senhor José Galliano Júnior, que cancele os nossos débitos, perdoando-nos, inclusive os próprios juros legais!
Que qualificativo poderá exaltar a eloquência deste gesto incomum?
Como dizermos desta atitude singular, quando por toda a parte o que vemos é a ganância dos argentários, mandando penhorar inexoravelmente, míseros trastes de humílimos devedores? Quem ousará desfazer-se, no atual momento, de tão elevada soma de haveres, usando de uma liberalidade que exorbita de todas as manifestações de humanitarismo? Oitenta e dois contos de réis, não representam nos dias que correm, uma fortuna?
O que acabamos de receber do professor Mirabelli é um gesto para o qual nos falham expressões de profundo e cristalino agradecimento. Nós o sentimos nos seus significados, compreendemos a sua amplitude, mas não sabemos como fazer sentir o nosso benfeitor, aquilo que experimentamos no mais íntimo dos nossos corações.
Sem expressões que possam traduzir o nosso estado de alma, ante a emoção profunda que nos causou o seu gesto de verdadeira benevolência, vimos a público, a fim de que, praticando uma justiça ditada pelos mais gratos sentimentos que a nossa consciência possa cristalizar, se transfunda ela em uma fervorosa prece de amor e de reconhecimento, para que caiam dos céus bênçãos mil, perfumando a atribulada existência de nosso amantíssimo protetor – Professor Carmine Mirabelli.
São Paulo, 1 de novembro de 1937.
Editor: Diamantino
Fernandes Trindade
Veja também: http://www.aldeiadecaboclos.com.br/a-proposito-das-experiencias-do-dr-mirabelli/