Impossível falar em Xangô sem pensar em justiça. Ele é lembrado sempre como aquele que bate o martelo, fazendo justiça por assim dizer…
O que é esta justiça que todos evocam quando se sentem de alguma forma prejudicados por alguém?
Pai Xangô, enquanto regente do Trono da Justiça defenderia um filho em detrimento do outro, tendo em vista que dentro dos princípios individuais cada qual acha que tem razão?
Xangô, Orixá da Justiça, não toma partido de ninguém. Existem Lei Divinas imutáveis e infalíveis que regulam nossa existência através das eras, e que registram nas paginas do Livro da Vida tudo o que é nosso por direito…
E o que é nosso por direito? Tudo o que criamos – pois somos co-criadores, ainda que inconscientes, e a falta dessa percepção seja talvez o que mais atrapalha a evolução da humanidade.
Quando intencionamos, pensamos ou desejamos algo, isso já foi registrado pela leis divinas. Esse é o motivo do conselho de Jesus: “Orai e vigiai”.
E são essas mesmas leis divinas que darão a cada qual segundo as suas obras. Simples assim.
Um dos aspectos de Pai Xangô é que ele atua diretamente no karma das pessoas, pois assim é dito: “Quem deve paga, quem merece recebe”…
E tão justo e incorruptível ele é, que se alguém acioná-lo para pedir justiça em qualquer causa que seja, quem pediu será cobrado primeiro.
Querem que a justiça seja feita nas causas em que pensam sair vencedores, mas não querem essa mesma justiça nas causas em que devem. Aí está o erro!
O mais sábio é prestar atenção do que se pensa, se deseja e se diz. Palavras são sentenças e o verbo é ação. O pensamento cria a um nível mais sutil por assim dizer, mas a palavra dita não volta, lembram?
A forma mais inteligente de se defender de qualquer injustiça que possa ser intentada contra você é ser consciente da dualidade que escolhemos vivenciar e saber lidar com ela, de forma que possamos crescer e evoluir.
Vejo tantas discussões infrutíferas e imprestáveis no meio espiritualista, sobre qual Umbanda é a correta; uns dizendo que a Umbanda Esotérica é a correta, outros dizendo que a Umbanda Sagrada é melhor que as outras, outros acham que a Umbanda Branca é a “boa” e as outras não servem…isso sem falar no julgamento sobre o que vestem nos terreiros, se tem que ter atabaque ou não, imagens de santos católicos ou africanos, por exemplo, enfim, uma infinidade de questionamentos, julgamentos e condenações que simplesmente não levarão a lugar algum…
Perante o Regente Trono da Justiça – Pai Xangô, o que significa tudo isso? Cegos guiando outros cegos? O que interessa para um filho de um terreiro o que é praticado no outro? Que tipo de anotação as críticas dele em relação aos outros terreiros vai gerar no livro desse filho?
Tudo o que é feito dentro de cada terreiro, tudo o que vibra cada filho, cada consulente, todo o trabalho que é desenvolvido, tudo o que foi realizado, e qualquer que seja o resultado de tudo isso, está devidamente anotado pela Justiça Divina, e ela não precisa, definitivamente, de juízes com “j” minúsculo para auxiliá-la…ela basta a si mesma e cumpre sua divina função com maestria.
Entre quem está certo ou errado, a Pai Xangô só importa o que vai pesar mais na balança dos seus feitos. Ajudou mais do que criticou? Realizou mais do que falou? Estendeu a mão mais do que apontou o dedo? Fez mais orações do que fofocas? Cultuou mais aos Orixás do que às demandas? Acrescentou ou subtraiu dos terreiros que participou?
Nessa hora, as questões sobre as quais se debruçam os que se acham emissários da justiça serão absolutamente irrelevantes, pois a prestação de contas é individual, e contra os registros da tela divina que reflete o que você é, não há argumentos.
É triste ver, dentro do meio umbandista, pessoas que ainda não entenderam que a Umbanda veio para unir, e não para dividir. Desconhecem que por trás do arquétipo da linha que uma entidade escolheu pra trabalhar, pode estar qualquer espírito, de qualquer época, e de qualquer lugar do universo.


E enquanto discutem o que e quando pode ser feito no terreiro do outro, esquece de cuidar do seu.
Não se esqueçam nunca que aquele que toma conta da horta do vizinho se esquece de regar as próprias sementes, Axé!

 

Por Mãe Valéria Siqueira

Terreiro de Umbanda Pai Oxóssi, Caboclo 7 Flechas e Mestre Zé Pilintra
Críticas e sugestões: t.u.paioxossi@hotmail.com
Fone: (011) 96375-7587

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